quinta-feira, 18 de junho de 2009

Noite

“É noite. É tarde. E numa das mais complicadas semanas da minha vida, em vez de estar a estudar, estou-me a lamuriar. Lamuriar por não ser como devia ser. Por não me sentir como devia sentir. Por duvidar daquilo de que não deveria duvidar. Sou ambiciosa e isso estraga-me, estraga o que faço, leva-me a estragar o que tenho de bom. Não consigo dizer nada, já nem um “desculpa” me sai. Pensei que fosse mudar, mas só me estraguei mais. Pensei que ia melhorar, mas só me sinto pior a cada dia que passa. Não sou o que devia nem o que um dia esperei ser. Não estou nem perto da pessoa que idealizei ser e a cada dia que passa, pioro. Já não sou ninguém, já não me sinto ninguém. Já estou demasiado dependente, o cordão umbilical voltou a crescer. E não o quero cortar, mas ele alimenta-me de ódio, de obsessão, de medo e eu sei que mais tarde ou mais cedo, antes de eu me tornar um monstro, ele vai ter que sair. A minha desevolução não vai parar, vou continuar a piorar, mas ao menos assim não contamino quem está do outro lado do cordão. Temi e aconteceu: aquilo que eu sinto por mim própria contagiou em demasia a minha relação com os outros. Já não é a minha relação com os outros, é a minha relação comigo mesma, o outro já é apenas uma extensão de mim, o segundo elemento da minha dupla personalidade. Em cada palavra, em cada sílaba tenho de sentir o terceiro significado para que me sinta queimar por dentro para saciar a minha sede de auto-destruição. Não aguento mais partilhar o pesadelo que faço da minha vida com os outros. Deixem-me, vão à vossa vida. Eu ia acabar num colete de forças, de qualquer forma.”

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

As Borboletas


O mundo agora tem cores. Cores vivas. As cores de uma coisa outrora banal têm outro reflexo, outro brilho. As coisas mais simples têm um sabor diferente e especial. Um toque, uma palavra fazem a diferença em tudo e fazem com que a pele se arrepie e o coração acelere… e saiba tão bem. Saber lidar com elas custa… “primeiro estranha-se e depois entranha-se”. E assim, o bater frenético das suas asas no nosso estômago mexe com tudo, com todas as partes do corpo, com todos os sentidos. As pernas ficam mais fracas, as mãos tremem, a face cora. O cheiro desperta sensações e memórias, a audição sente o bater rápido do coração, o paladar sente o gosto do outro, o tacto a sua pele e tudo isso desperta em nós um arrepio, um sorriso, uma vontade de dizer tudo o que sentimos ali, de gritar ao mundo como é bom. O quotidiano é vivido com ansiedade. Ansiedade de não conseguir aproveitar todos os minutos, todas as horas, ansiedade de dizer ou fazer algo que possa interromper abruptamente aquele esvoaçar.

E muitas vezes dói e custa e é irracional. E lutamos contra elas e pensamos que podemos viver sem elas, mas na verdade não passa de uma ilusão. É senti-las que dá sabor aos nossos dias, é o que nos faz acordar de manhã, é o que nos faz suportar tudo de mau o que possa acontecer no mundo. É aquele abraço, aquele beijo ao fim do dia que nos faz sentir seguros mesmo que o mundo à nossa volta se desmorone. E por mais irracional que seja, por mais loucuras que tenhamos de cometer, não conseguimos viver sem elas. Passamos por tudo, porque são elas que nos alimentam a alma.

E no entanto pode ser corrosivo. Podemos acabar um dia a sentir que por sua causa já nada nos resta no espírito. Podem-nos deixar a pensar que não vale a pena se não as sentimos. Podem tirar a esperança, essa que é a última a morrer.

No entanto, há-de surgir o sol por entre as nuvens, e os seus raios a despontar hão-de começar a iluminar uma existência já sem vontade de continuar. É alimento e é a fome. É ambíguo. Mas que seria de nós sem elas?


imagem retirada do site olharesnocorpo.blogspot

sábado, 26 de julho de 2008

Família.


Mais um ano que acabou.


Este trouxe mais mudanças do que eu esperava. Acima de tudo, o grupo que mudou a minha vida, o motor das mudanças deste ano: a minha escstunis. Na verdade nunca sabemos o que o futuro nos traz. E eu nunca imaginei que me trouxesse a escstunis. Mas ainda bem que trouxe, ainda bem que veio, ainda bem que tanta coisa mudou, porque mesmo o que veio de mau me ajudou a crescer e a olhar melhor à minha volta.

Conheci pessoas espectaculares, vivi momentos que marcaram o meu percurso e mudaram a minha forma de ver o mundo. Foi uma das “luzes” mais fortes do ano… E o melhor de tudo… é que ainda tenho pelo menos um ano pela frente :D

(nunca subestimando, obviamente, todos os outros apoios, esses já sabem quão importantes são :)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Ela


Achei por bem um post dedicado a Ela. Porquê? Porque entre nós há tudo, tudo mesmo. Ao mesmo tempo consigo odiá-la por ela gostar de se magoar a si própria e amá-la por ela ser como é, sempre atenta, sempre por perto, sempre com a palavra certa ali pronta a sair.
Neste momento da minha vida, não me imagino a viver sem ela. Sem chegar a casa e tê-la, nem que seja para falar sobre as coisas mais banais e mais fúteis de sempre. Com ela, até essas conversas têm sentido. Aliás com ela, até a conversa mais porca de todos os tempos pode ter sentido. Tudo tem mais sentido com ela. Havemos de viver assim pra sempre, a cozinhar porcaria, a dizer porcaria, a fazer porcaria, porque somos felizes assim, porque com isto tudo esquecemos os maus momentos. E mesmo quando os há, as conversas sérias trazem a ambas uma paz de alma… Por isto tudo, não imagino a minha vida sem ti.

Adoro-te Raquel.



segunda-feira, 14 de abril de 2008

Luzes


Dentro da escuridão, luzes surgem, a guiar o caminho. É estranho sentir estas luzes, estranho porque me reconfortam, me animam para o que vem a seguir.
E nesta altura há um turbilhão de luzes, e eu tenho medo de não saber lidar com eles, nunca soube, sempre as consegui ir apagando pouco a pouco. Não estou no vazio, mas tenho medo de cair nele. No fundo, tudo o que tenho é medo. Medo de não ter estas luzes. Não as aproveito tendo medo que elas se extingam.

Mas agradeço tê-las, aguento-me graças a elas.


domingo, 9 de março de 2008

Esquizofrenia

«Sou um caos. Egocentrismo, Auto-destruição, auto-psicologia. As coisas no meu cérebro não encaixam. Preciso de ar ao mesmo tempo que preciso de respirar outras coisas. Nunca hei-de conseguir ser aquilo que quero realmente ser, porque, além de tudo, não sei o que quero ser. Sei uma coisa: sou paradoxal.

Aquilo que não quero fazer são as primeiras coisas que faço, o que quero fazer não arranjo coragem para o fazer. Tudo o que há de errado, mesmo que saiba que não fui eu a fazê-lo, penso: “Será que não fui eu a fazê-lo?”

O abismo, a queda infindável persistem em não abandonar o meu imaginário. Sinto o espírito mastigado. Ás vezes sinto este pequeno mundo que construí, à minha volta, a desfazer-se. Se ele desmoronar, não me resta nada. E às vezes sinto que há pouco que possa fazer para o impedir de desabar.

Tento pseudo-progredir com a esperança que o mundo mude. Mas no final do dia, eu continuo a ser um caos.»

Já tive dias melhores, sim.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Vazio

Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).


Alberto Caeiro



Não pensar, simplesmente. Deve ser essa a minha filosofia daqui em diante.